Não
sei quantas almas tenho
Não
sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem achei. De tanto ser, só tenho alma. Quem tem alma não tem calma. Quem vê é só o que vê, Quem sente não é quem é,
Atento
ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu. Cada meu sonho ou desejo É do que nasce e não meu. Sou minha própria paisagem; Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou.
Por
isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser. O que segue não prevendo, O que passou a esquecer. Noto à margem do que li O que julguei que senti. Releio e digo: “Fui eu ?” Deus sabe, porque o escreveu.
Poema
de Fernando Pessoa
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No sé
cuantas almas tengo
No sé
cuántas almas tengo
A
cada momento mudé.
Continuamente
me extraño.
Nunca
me vi ni encontré.
De
tanto ser, sólo tengo alma.
Quien
tiene alma no tiene calma.
Quien
ve es sólo lo que ve,
Quien
siente no es quien es,
Atento
a lo que soy y veo,
Me
vuelvo ellos y no yo.
Cada
sueño mío o deseo
Es de
lo que nace y no mío.
Soy
mi propio paisaje;
Asisto
a mi pasaje,
Diverso,
móvil y solo,
No sé
sentirme donde estoy.
Por
eso, ajeno, voy leyendo
Como
páginas, mi ser.
Lo
que sigue no imaginando,
Lo
que pasó olvidando.
Anoto
al margen de lo que leí
Lo
que creí que sentí.
Releo
y digo: ¿”fui yo?”
Dios
sabe por qué escribo.
Poema
de Fernando Pesoa
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domingo, 21 de agosto de 2016
No sé cuantas almas tengo
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